Será que o acesso à equipamentos e câmeras celulares cada vez mais de qualidade são uma ameaça à profissão do fotógrafo?
Dando uma olhada na história mundial, vemos que o ser humano travou várias guerras por motivos aleatórios (aparentemente, uma orientação religiosa diferente, um pedaço de terra, disputa de "quem tem mais que quem" e outras questões foram e são motivos suficientes para matarmos uns aos outros). Todavia as guerras aceleraram processos tecnológicos e industriais que alavancaram com rapidez e eficiência, marcando a história do mundo com suas invenções. Dentre tantas, destacou-se a criação da câmera digital com rapidez de disparo e mobilidade melhoradas em comparação aos equipamentos anteriores, fomentadas ainda mais no período da Guerra Fria. Imagina só como não seria carregar aquelas câmeras imensas e pesadíssimas de antigamente no meio de uma guerra? As câmeras foram sofrendo diversas alterações, com propósitos e públicos de consumo diferentes a medida que o cinema e fotografia independente também foi ganhando impulso. Passado esse período, temos os anos 90 como o marco da acessibilidade do universo digital em uma parcela da população (pois essa história de globalização e acesso a tecnologia é super restrita já que várias partes do mundo as pessoas não tem nem o que comer). De lá para cá, o avanço tecnológico superou as expectativas e nos trouxe ao momento atual onde, no Brasil, uma pessoa pode comprar um celular com uma câmera razoavelmente boa por menos de dois salários mínimos.
Sendo assim, mais gente de mais partes do mundo estão conseguindo não apenas fotografar num fluxo muito maior, como também suas fotos são muito mais vistas com a popularização das redes sociais. Lidamos diariamente com um fluxo imagético intenso e cada vez mais se tem lucrado com isso - desde fotógrafos e cinegrafistas renomados até leigos que se aventuram no audiovisual comercial. Seria esse momento que vivemos uma ameaça para quem vive de fotografia e filmagem? É possível que a popularização de equipamentos e tutoriais na Internet afaste o consumidor dos profissionais da área? A resposta é: não. Naturalmente a competição ficou mais acirrada, já que assim como outras profissões, o mercado não mais olha diplomas e certificados como prioridade e sim qualidade do material. Isso obriga os profissionais antigos a estarem sempre se atualizando de técnica e referência artística, mas não necessariamente os excluem, muito pelo contrário: por terem mais experiência e melhor formação esses profissionais podem sair na vantagem.
Façamos uma comparação simples: uma pessoa que sabe desenhar e entende de diferentes tipos de tinta não o torna um bom tatuador. Da mesma forma, uma pessoa que sabe mexer em uma câmera e entende de diferentes técnicas fotográficas não o torna um bom fotógrafo. Pensando em mais um exemplo: um bom escritor não necessariamente será um bom roteirista, porém estará muito mais propenso a ser em comparação aos que gostam de escrever mas não tem as técnicas e experiências.
Fotografia é desenho, fotografia é texto e fotografia é física. O que separa quem extrai o melhor disso para quem apenas se aventura desorganizadamente não é um diploma ou vivência, mas quem tem diploma e vivência normalmente sabe se posicionar profissionalmente melhor do que quem não tem. Se entrarmos no debate de marketing e venda pessoal, aí sim vemos que equipamento não é nem nunca vai ser uma ameça - e sim o quanto o profissional se expressa, se posiciona, se divulga e vende aquilo que gera como registro. E pasme: uma pessoa com um celular bom pode conseguir isso melhor e ganhar mais dinheiro do que uma pessoa com a melhor câmera do mercado que se isola, não pratica e não se divulga.
A ameça, em suma, está dentro da gente e não naquilo que seguramos em mãos. Cabe a cada um decidir o rumo que quer para sua carreira, reconhecendo seus privilégios ou ausência deles e buscando o melhor com o que tem no momento. Sobrevivência é isso: desenvolver a capacidade de nadar em águas estranhas.
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