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E esse negócio de áudio?

Entenda porquê pensar apenas em equipamento não garante qualidade |



A primeira vez que parei para realmente pensar sobre áudio foi ainda criança, quando percebi que cantar dentro do banheiro era diferente do que cantar em qualquer outro ambiente da minha casa. Passaram-se muitos anos até eu entender sobre ondas sonoras e o motivo pelo qual azulejo e outras superfícies criam reverberação - mas a impressão que ficou, mesmo depois de adulta, foi a sensação da minha voz no banheiro. Se formos parar pensar sobre o assunto, formamos nossas memórias afetivas muito (e talvez principalmente) por causa do som e do conforto que aquele som nos trouxe. Seja a voz de uma mãe lendo para o filho antes de dormir, seja uma música que te faz lembrar de alguém querido, seja o som da chaleira esquentando água para o café, o passarinho cantando no quintal, a chuva que cai na telha - as possibilidades são infinitas. Por padrão, quando lembramos de uma situação lembramos dela visualmente (a não ser pessoas deficientes visuais, que lembram com sons). Esse processo comum de lembrar com imagens são por alguns motivos, mas o principal se dá porque luz chega ao nosso cérebro mais rápido do que som (por conta da resistência do ar e da forma que nosso cérebro funciona, em resumo). Contudo, luz nunca vem sozinha. Sempre vem com algum som. Faça a seguinte experiência: lembre-se daquilo que mais te impacta ou impactou enquanto vivência e tente recordar quais os sons que acompanharam essas experiências. A depender da vibração, do volume, e da frequência do som, uma experiência pode ter sido muito mais vívida (no sentido ruim e bom) ou fraca, remota. E é essa associação de som com experiência narrativa que precisamos ter em mente quando decidimos registrar qualquer tipo de áudio. Ambientação, diálogo, efeito, ruídos - tudo isso deve ser levado em consideração quando queremos contar uma história, associada (ou não, a depender da intenção narrativa) com a imagem. Antes de usar a lógica, o expectador precisa sentir. Seja um silêncio que potencialize uma explosão de efeito (pode conferir esses filmes de Hollywood. Todos eles usam esse recurso), seja uma música antiga tocando na rádio enquanto dois personagens conversam para contextualizar a época vivida ou até mesmo uma música contemporânea num filme de velho oeste para brincar com a representação de um personagem (como fez o cineasta Tarantino). Em qualquer caso exemplificado, o som se torna um recurso riquíssimo para expressão de existências e suas possibilidades.


Por tudo isso, concluo: você pode ter o melhor equipamento de áudio, mas se não entender sobre construção narrativa sonora/imagética perde tanto quanto o Youtuber amador que grava áudio com o celular ruim. Assim como imagem, áudio é observação e estudo, e sua qualidade depende dessa dedicação.


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