Em uma imagem de impacto, técnica e sensibilidade andam juntas |
De manhã você abre o guarda roupa e decide qual parte de cima vai vestir com qual parte de baixo. Depois você decide qual bebida vai acompanhar o seu cardápio de almoço. Decide que lado seu cabelo fica melhor, torce o nariz quando o quarto está bagunçado demais e sabe que sapato se calça em par. Não um de cada tipo.
Tudo são escolhas: a gente é direcionado, desde crianças, a uma convenção do que faz sentido e do que não faz. Junto a isso, temos um cérebro que dá alerta de incômodo quando algo muito gritante, bagunçado, sujo ou desorientado surge diante de nós. Esse filtro pode variar já que a noção de arrumação, limpeza e harmonia muda de acordo com o contexto social e cultural. Sendo assim, entender de onde vem nossa noção de uma boa foto é fundamental para o processo de compor uma imagem. Na foto deste texto, por exemplo, me vi próxima de duas coisas que gosto muito: natureza e Fusca. O que muda é entender como meu corpo e percepção de luz interfere na hora do registro para compor uma imagem mais adequada possível para o que quero (porque imagem bonita não existe. O que existe são padrões de imagens bonitas e feias, e isso não me interessa). Quando entendi de onde vinha a luz, como ela refletia nas plantas e o que eu enxergava em várias posições diferentes, encontrei a composição que queria e pronto: apertei o botão.
Certamente essa foto teria saído diferente se eu não soubesse manejar a câmera e não entendesse nada de enquadramento, ângulo e elementos, por mais que a sensibilidade exista e interfira na decisão imagética. E tudo bem: o exercício constante do registro aliado à dedicação de entender a técnica não excluem as primeiras fotos que tiramos da sua posição de relevância. Elas são uma parte da nossa trajetória de conhecimento e também precisam ser celebradas - mesmo que nunca exibidas. Afinal, compor é contar uma vivência: e na vida nem sempre acertamos.
Antes de clicar o botão, pense:
Que vantagem esse ângulo e luz traz para essa imagem?
Será que se eu me mover para o lado ou para baixo a composição sai melhor?
Porque esta imagem me interessa?